segunda-feira, 14 de novembro de 2011
Estranho Conforto
sábado, 16 de abril de 2011
Desencontros
Ele era só um cara, um cara que poderia ser visto como um cara legal, nada tão feio, nada tão bonito, nada tão gordo, nada tão magro e nada tão falante. Com problemas e medos, para ele, normais. Mas se deixava atormentar por alguns detalhes que simplesmente o desesperavam. Sempre preso em seus pensamentos sobre nada poder ser capaz de calar aquela sensação arrepiante que ainda não conseguia deter ou se acostumar, tão pouco tirar proveito, sensação que ele frequentemente sentia quando era fitado por olhos que pareciam buscar lhe dizer algo. E havia uma pessoa especialista em lhe fazer isso. Quem diria que poderiam existir tantas aflições dentro de alguém aparentemente tão pacato. A realidade era bem diferente. Não sabia se ser ilegível era exatamente bom ou ruim, mas sempre vai existir alguém que passe com extrema facilidade por suas barreiras interiores, impostas seja la por quais motivos, isso ele descobria a cada dia vivido.
Não sabia nome, nem o que ela fazia, só reconhecia os olhos, de longe, não importava o que se sobrepunha no caminho entre os dela e os seus, era incrível como podiam fazer aquilo, nada calava o desespero causado pela falta de reação que sentia nos dias que, apesar de nem serem tantos, eram marcados mais que os outros muitos por aquele olhar. Saía de casa e se achava paralisado, gelado, era inevitável, assim que colocava os pés na calçada, todos os dias, buscava seus ativos perseguidores que lhe causavam uma aliviante tranquilidade quando não se faziam presentes, só não conseguia se sentir em paz por completo pois não conseguia os tirar de sua memória. Pensava ser impossível de encarar aquilo por muito tempo, seria impossível deixar de respirar por tanto tempo, por isso sempre se virava e se colocava de volta em seu caminho, o mais rápido que podia. Segundos eternos, primeiros passos completamente programados pois do contrário seriam impossíveis, todos que poderiam lhe dar qualquer tipo de saída ou conforto sumiam, sempre.
Tudo tão forte que já quase gostava, talvez estivesse se acostumando, se tudo seguisse assim o controle em breve viria, ela provavelmente se cansaria e se daria por vencida, tudo se colocaria no trilhos, as surpresas diárias, já esperadas, acabariam. Só não se deu conta que, enquanto fechava seu portão, pensava e lembrava de sua rotineira situação, algo estava mudado. A rotina já não acontecia da mesma forma. Foi traído, afogado por seus próprios pensamentos que não lhe deixaram percerber que nem todos estão dispostos a se darem por vencidos, por alguns instantes se esqueceu que pessoas são imprevisíveis, por mais sistemáticas que possam ser. Sem dúvida a diferença não estava no céu nublado e escuro que indicava possíveis tempestadades, nem no vento forte que balançava as flores em seu jardim cuidadosamente plantado, nem na chave que emperrava na fechadura velha que guardava seu mundo das turbulências externas. A diferença começou no exato segundo em que começou a se virar, decidido a dar fim no dia frio que acabara de começar, mas o som do vento nas folhas, que lhe atropelavam as pernas, aos poucos foi sumindo, o barulho dos carros que passavam na rua desapareceu, as pessoas que, apressadas, seguiam seus caminhos, todos opostos ao que ele estava, pareciam estar de costas, só podiam estar dizendo o quanto a estabilidade dos movimentos programados, a confiança posta em um futuro estudado para ser sem sustos estava prestes a mudar. Quando terminou de se virar viu que a personagem era a mesma, de seus pensamentos, suas manhãs, seu temido desconforto, o alvo dela ainda era o mesmo, o vento parecia se dedicar somente para seus cabelos de forma a gerar um dos efeitos mais covardes que se pode criar, os olhos eram os mesmos olhos que arrebatavam sua alma, como sempre, tão escuros que as nuvens, antes negras, brilhavam como se não carregassem nada da chuva que já caía, mas nem se atrevia a encostar uma gota se quer na pele branca dela.
Nada poderia se comparar aquele momento que o travava, desesperava, quase lhe escondia que, desta vez, seus perseguidores estavam acompanhados de passos, firmes e decididos, estava tudo bem mais próximo, somente alguns metros de rua o separavam da desconhecida que tanto o afetava. Ele definitivamente não sabia lidar com aquilo, juntou algumas forças e aproveitou um veículo que, desavisado do que acontecia ali, se colocou entre os dois, dando tempo para pensar talvez quando não deveria ter pensado. E ele respirou, se virou e fez força pra se equilibrar nos passos como fizera tantas outras vezes menos intensas, o coração, que parecia ter sido calado e imobilizado, agora batia como se tivesse que bater tudo que bateria por toda a vida, mas nos próximos quatro minutos que demoraria pra chegar até o transporte público. Agora, não sabia fazer mais nada além de andar, correr seria impossível, olhar para os lados ou para trás seria mais do que necessário pra sofrer uma queda ou trombar com alguém, ou algum poste. Do mesmo modo que se sentia segurado por um olhar fixo, fixava o seu na porta do ônibus que estava, por sua “sorte” parado e pronto para partir. Entrou e se sentou em seu novo refúgio, o primeiro era o jardim que ficou para trás, trancado, esperando sua volta. Sua respiração já estava quase se normalizando quando procurou se distrair olhando pela janela, para a chuva que caía lá fora. Qual foi sua surpresa quando encontrou os olhos, que nunca chegaram tão perto, o observando do lado de fora, e acompanhados de um lindo sorriso que ameaçou caminhar até onde ele estava sentado, sem ter saída, encurralado. Sua respiração novamente parou por um instante, mas o ônibus arrancou. Sem mexer nada além do pescoço, ele observou aquela cena que lhe causava pânico ser deixada para trás quando a vida deu a ele a saída que tanto desejava.
Ele sabia que não poderia evitar um encontro real por mais tempo, talvez por mais nenhum dia. Sabia que seu frio na barriga viria visita-lo em breve e de maneira mais intensa. Começou a pensar sobre tudo e se lembrou dos dias que não era alvo da bela garota e de como ela se colocou na vida dele sem nem sequer lhe falar uma palavra. Tentou imaginar como seria se ele parasse pra ouvir o que ela tem a dizer. Não entendia como alguém poderia gostar de se colocar em situações embaraçosas como aquela que ele, sem perceber, não via a hora de acontecer novamente. Aos poucos percebeu que sentia falta daquilo que não vivia simplesmente porque não sabia viver. Estava mais do que na hora de fazer algo sobre isso, mas o frio lhe percorria toda a espinha só de pensar.
terça-feira, 24 de agosto de 2010
A Verdadeira Fonte
Muitas vezes me pego frustrado por não ter motivo ou inspiração pra escrever um texto bacana ou inteligente, até questionei ser um problema de falta de leitura, cultura ou coisas do tipo. Mesmo depois de me posicionar e ler mais, observar coisas de uma maneira mais artística ou ouvir músicas que me fazem mergulhar em lembranças e planos futuros ao mesmo tempo, olhar fotograficamente tudo o que passa diante dos olhos, forçar a cabeça revirando cada canto de coisas de onde realmente a inspiração não é esperada e de onde ela realmente não é encontrada, ou até pior, de onde ela jorra a ponto de chegar até seus pés de tanta informação que transborda e não se reter nada, e se reter, reter tanto a ponto de nem saber como traduzir isso para palavras. O incrível fato é que a real inspiração realmente está em lugares de onde menos se espera e em todos os outros lugares também.
Mesmo mergulhado em um tremendo "jejum forçado" de informações do tipo que eu estava acostumado a absorver, e fui privado por situações e escolhas da vida, acabei por ler um texto sobre o tema extremamente saturado e que bate de frente comigo todos os dias, ou madrugadas, que passo pelo centro da cidade de São Paulo. Os garotos, ou nem tanto, nas ruas usando crack. Não vou me aprofundar no tema "crack" ou "cracolândia", embora possa parecer bem egoísta ou até mesmo desrespeitoso falar desse tipo de problema e não se aprofundar, se é que alguns de vocês que estão lendo isso tem a literal moral pra me julgar por fazerem algum trabalho com esses garotos, garotas, homens, mulheres, senhores e senhoras usuários e dependentes. O que me chamou mesmo a atenção nos textos foi realmente a sensibilidade dos escritores, seja com palavras ou fotografias de um "fotógrafo iniciante" (como dito pelo próprio e modesto autor das fotos), e que me fizeram pensar em meus esforços em busca do conteúdo tão buscado para assim passar algo de bom para leitores escassos, e nem por isso sem qualidade. Além de redescobrir que me falta tempo para traduzir tanta informação e que não basta apontar minha máquina fotográfica e afundar o dedo no obturador captando assim uma sequência de imagens inúteis pra qualquer um, sem tirar, é claro, o mérito da fotografia que nos mostra coisas mesmo depois de muito tempo que foram registradas. Saber o que se está fotografando, passar para as lentes o que se quer fotografar, além da imagem que se vê, a imagem que se sente, a imagem que é fotografada antes pelos olhos sem se importar muito se o click saiu no momento certo às vezes, quase sempre, é bem instrutivo e satisfatório e pode exercitar a sensibilidade para a inspiração, que já não está somente nos seus pés, mas agora está te afogando e sendo ignorada ao mesmo tempo, como o que foi me passado por essas pessoas que escreveram sobre suas experiências no submundo da cidade. Isso me faz pensar no quanto não vivemos e não vemos nada perto do que nos é dado por Deus todos os dias a partir do momento que nossos olhos abrem, ou antes ainda, quando nossas lembranças nos trazem momentos bons ou ruins. Apesar de passar batido por ele, acho importante esse momento depois de abrir os olhos e antes de sair correndo dia a fora, esse momento de perguntar pra Deus como será o dia e dizer pra Ele não desistir de falar sempre comigo mesmo eu sendo ignorante pra não ouvir tudo. Além de importante, evita muitas atitudes precipitadas e impensadas, até nossos olhos se fecharem novamente.
Depois de perder o sono, checar o e-mail pelo celular (ainda estou sem internet), ler algumas coisas realmente usadas pra me despertar, ver fotos lindas, levantar no escuro, ir até a janela pra poder respirar melhor, tropeçar no tripé e quase derrubar a câmera que estava "colocada" no meio do quarto, sentar e escrever isso tudo, acho que realmente relembrei que se inspirar de onde se espera é a fonte para poder se inspirar de onde não se espera e a Fonte Inspiradora está sempre jorrando, o que nos falta (me falta) é ser sensível e humilde para mergulhar e beber Dela.
Os textos que li e as fotos que vi estão nos respectivos lincks:
A Cracolândia que você não vê:
http://talitaribeiro.posterous.com/a-cracolandia-que-voce-nao-ve#
Uma madrugada na cracolândia:
http://marcogomes.com/blog/2010/uma-madrugada-na-cracolandia
Deus te abençoe!
terça-feira, 17 de março de 2009
Encontros
Certo dia, quando tudo parecia normal, ao virar de um corredor a outro da empresa onde trabalha, ele se deparou com algo que repentinamente o preocupou e o deixou sem nenhuma reação imediata. Assim que uma porta terminou de ser aberta era perceptível ver que onde deveria haver paz, para colaborar com o bom rendimento do dia, estavam presentes algumas lágrimas que tentavam ser abafadas enquanto insistiam em rolar face abaixo.
Acho que seria fácil arriscar pensar ou até mesmo se apressar em dizer algo, mas ele preferiu ficar quase em silêncio e se preocupou em confortar sua companheira de trabalho, que segurava os soluços, com um abraço daqueles que são dedicados apenas aos mais próximos. Claro, a proximidade entre eles não era tão grande, afinal ele nunca buscou estar mais próximo, mas a situação já era o bastante para quebrar algumas barreiras que se criaram durante a vida dele, não com ela, mas com todos, e ele não deixou que essas barreiras o impedissem de conforta-la. A surpresa também bateu de frente com ela que, de alguma forma, não esperava ou não gostaria de encontrar alguém do outro lado da porta naquele momento em que se esforçava para retomar o dia e deixar novamente sua decepção para o passado. Não era a primeira vez que ela buscava alívio sozinha em seus pensamentos e acabava se rendendo às lágrimas. O abraço apertado realmente a amparou e era algo tão inesperado que as defesas dela simplesmente não existiram. Suas lágrimas se intensificaram junto com os pensamentos que se debatiam em sua cabeça e já se misturavam questionando como era possível um praticamente estranho a ter feito se sentir tão protegida em seus braços? Braços que a estavam segurando e apoiando a tão pouco tempo, mas tempo tão infinito que parecia algo de tal modo importante que não poderia ser trocado por nada. Ela somente se deixou ser abraçada e, sem se dar conta durante algum tempo, em sua aflição, o abraçava também.
Se alguém passou, questionou ou censurou não se sabe. Não se sabe nem se as coisas em volta passaram mais rápido ou se tudo parou para saber o que estava acontecendo. Para ele era importante saber o motivo do desabafo, mas não gostaria de constrange-la perguntando. Para ela, que começou a se compor, o constrangimento era inevitável e por isso até tentou se explicar, mas ele não a deixou falar muito, apenas disse, enxugando uma última lágrima teimosa de seu rosto, que alguém a estava olhando, e que esse alguém não deixava nenhuma daquelas lágrimas escapar, as guardava todas. Ela sorriu pois entendeu de quem se travava, mas no fundo não sabia muito no que isso a ajudaria, pediu desculpas por molhar a camisa dele e licença pois teria que lavar o rosto novamente. Ele a observou até a porta, de onde antes ela saíra, se fechar depois seguiu seu caminho pensando no que seria capaz de faze-la, tão gentil como parecia ser, chorar como chorou, mas não iria perguntar.
17/03/2009
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
Viver ultrapassa o entendimento

"Quando me vi sem caminhos pra seguir, voltei meus olhos ao Pai, pude então entender que ultrapassa o entendimento viver"
16/08/2007
quinta-feira, 31 de julho de 2008
"História de amor cotidiano"

DSC00305
Upload feito originalmente por Carlos Plaza
"Porque a inspiração está um tanto longe ultimamente, mas aos poucos ela volta. Quero mais tempo para mais fatos bonitos e menos fatos repetidos, fotos, para o subjetivo, para o real fantástico, quero menos correria, quero mais coisinhas simples.
Enquanto a inspiração não volta de vez e fica no lugar onde pertence, palavras antigas me fazem lembrar do tempo onde as frases voavam do meu coração para os papéis..."
Texto de Sara Campos
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
Sentido

Gotas
Upload feito originalmente por Carlos Plaza
Às vezes, só às vezes, me sinto como uma gotinha perdida no meio de tantas outras gotinhas. Não sou mais bonito e nem mais rico, sou tão inteligente quanto todas as outras gotas, tudo é uma questão de treinamento, criação, influência e etc. O que será que realmente difere gotas como eu das demais gotas? Não acredito que seja só o fato de termos visto nano-robôs uma vez na vida (nesse caso só conheço uma outra pessoa que viu também, mas não estou falando só dela). Por que então esta sensação de futuro, por que existem coisas, que parece, que já sabemos que vão acontecer? De algo sabemos por experiência própria: a vida sempre muda, geralmente muda para lugares diferentes dos lugares onde esperamos que ela vá mudar. Acho que é isso que torna tudo tão estranho, quando as coisas finalmente começam a se encaixar, até a vida vir e nos surpreender novamente, embaralhando as coisas com suas surpresas já esperadas, e que mesmo assim nos surpreendem. Surpresas que chegam para tornar algo ou tudo diferente, mas acabam colocando a vida nos eixos, novamente nos eixos.
Este texto foi publicado anteriormente em meu Fotolog, coloquei ele aqui porque gosto e porque faz sentido.