terça-feira, 17 de março de 2009

Encontros


Certo dia, quando tudo parecia normal, ao virar de um corredor a outro da empresa onde trabalha, ele se deparou com algo que repentinamente o preocupou e o deixou sem nenhuma reação imediata. Assim que uma porta terminou de ser aberta era perceptível ver que onde deveria haver paz, para colaborar com o bom rendimento do dia, estavam presentes algumas lágrimas que tentavam ser abafadas enquanto insistiam em rolar face abaixo.
Acho que seria fácil arriscar pensar ou até mesmo se apressar em dizer algo, mas ele preferiu ficar quase em silêncio e se preocupou em confortar sua companheira de trabalho, que segurava os soluços, com um abraço daqueles que são dedicados apenas aos mais próximos. Claro, a proximidade entre eles não era tão grande, afinal ele nunca buscou estar mais próximo, mas a situação já era o bastante para quebrar algumas barreiras que se criaram durante a vida dele, não com ela, mas com todos, e ele não deixou que essas barreiras o impedissem de conforta-la. A surpresa também bateu de frente com ela que, de alguma forma, não esperava ou não gostaria de encontrar alguém do outro lado da porta naquele momento em que se esforçava para retomar o dia e deixar novamente sua decepção para o passado. Não era a primeira vez que ela buscava alívio sozinha em seus pensamentos e acabava se rendendo às lágrimas. O abraço apertado realmente a amparou e era algo tão inesperado que as defesas dela simplesmente não existiram. Suas lágrimas se intensificaram junto com os pensamentos que se debatiam em sua cabeça e já se misturavam questionando como era possível um praticamente estranho a ter feito se sentir tão protegida em seus braços? Braços que a estavam segurando e apoiando a tão pouco tempo, mas tempo tão infinito que parecia algo de tal modo importante que não poderia ser trocado por nada. Ela somente se deixou ser abraçada e, sem se dar conta durante algum tempo, em sua aflição, o abraçava também.
Se alguém passou, questionou ou censurou não se sabe. Não se sabe nem se as coisas em volta passaram mais rápido ou se tudo parou para saber o que estava acontecendo. Para ele era importante saber o motivo do desabafo, mas não gostaria de constrange-la perguntando. Para ela, que começou a se compor, o constrangimento era inevitável e por isso até tentou se explicar, mas ele não a deixou falar muito, apenas disse, enxugando uma última lágrima teimosa de seu rosto, que alguém a estava olhando, e que esse alguém não deixava nenhuma daquelas lágrimas escapar, as guardava todas. Ela sorriu pois entendeu de quem se travava, mas no fundo não sabia muito no que isso a ajudaria, pediu desculpas por molhar a camisa dele e licença pois teria que lavar o rosto novamente. Ele a observou até a porta, de onde antes ela saíra, se fechar depois seguiu seu caminho pensando no que seria capaz de faze-la, tão gentil como parecia ser, chorar como chorou, mas não iria perguntar.


17/03/2009

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Viver ultrapassa o entendimento


Estou eu, ainda aqui, deslizando pelas fendas da vida e sem saber direito o que fazer dela. O ritmo parece estar me levando e não eu a ele. Bifurcações bastante decisivas e por mais que penso por onde ir menos caminhos encontro, o que na verdade, acho, deve ser bom, quanto menos caminhos menos dúvidas ou menos opções, mais dúvidas, menos opções, menos horas de sono, mais sono, menos cama, mais sofá, menos opções, mais trabalho, mais madrugadas, menos manhãs, menos sono, menos desempenho, mais velocidade, mais risco, de vida, de erros, de estreasse, de colapso, de colisão, mais sono, mais música, mais RedBull, mais amigos, mais conversas com amigos, menos amigos, mais horários alternativos, menos horas de sono, menos ideias, menos fotos, menos criatividade, bem menos fotos, mais música, mais edição, mais folhas caindo, mais um dia sem limpar o aquário, mais um dia que nasce me olhando correr enquanto eu tenho a oportunidade de ver ele nascer devagar e jogo fora, dia após dia, mais valores, menos valores, menos alternativas, todas as alternativas, menos uma unha encravada, menos dor, menos circulação, menos dias pra revisão do carro, menos dinheiro, mais RedBull, menos dinheiro, mais inspiração, mais inspirações que sinto passar e não sei se vou lembrar delas depois, mais planos, menos tempo para ver os detalhes que sempre adorei ver, mas agora eu os atropelo como um insecto que bate no para-brisa do carro, mais bifurcações, menos caminhos, mais folhas caindo, mais opções sumindo, mais dias passando, mais informações entrando sem saber se devo ou não deixa-las entrar, mais bifurcações, menos caminhos e uma dúvida que está me fazendo perder o sono junto com tantas outras. Não pergunte.
Me perguntaram:
-Como você está?
Respondi:
-Estranho
Depois parei pra pensar o que era estar estranho.
Sei que, como o fader (foto), temos um caminho. Só não sei mais se estou ou quanto estou indo para frente, mas sei que devo fazer força e não parar, mesmo que tudo gire e passe em alta velocidade quase me derrubando e até mesmo me derrubando.

"Quando me vi sem caminhos pra seguir, voltei meus olhos ao Pai, pude então entender que ultrapassa o entendimento viver"


16/08/2007